sábado, 22 de agosto de 2009

Que família queremos?

 

sagrada_familia

Quando uma criança  nasce, através do relacionamento de seus pais começa a fazer parte de uma tradição familiar que tem raízes muito mais antigas. Com o dom da vida se recebe todo um patrimônio de experiência.  A este respeito os pais têm o direito e o dever inalienável de o transmitir aos filhos: educá-los no descobrimento de sua identidade, introduzi-los na vida social, na prática de sua liberdade moral e da sua capacidade de amar através da experiência de serem amados, sobretudo, no encontro com Deus. Os filhos crescem e maturam humanamente na medida em que acolhem com confiança esse patrimônio e essa educação que vão assumindo progressivamente.


Bento XVI, Homilia pronunciada na missa de encerramento do
V Congresso Mundial das Famílias, 9 de julho de 2006

 

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. Acreditamos na família. Temos a mais profunda convicção de que ela é berço de humanidade, escola de solidariedade, lugar de encontro de pessoas, espaço de aprendizado das coisas elementares da vida, esfera onde todos podem encontrar o rosto de Deus. João Paulo II tem razão ao afirmar: “O futuro da humanidade passa pela família”.


2. Mas que família queremos? Não defendemos qualquer contrato ou consorcio, mas a fundação de uma comunidade de vida e de amor., espaço de comunhão de pessoas, âmbito de profundo e efetivo bem querer, A família nasce e se funda no encontro de um homem e de uma mulher relativamente maduros, na indizível experiência de um amor não interesseiro, homem e mulher conscientes da grandeza e do mistério de sua união e da família que fundam.


3. Os que se casam traçam em grandes linhas um projeto de vida. Não se unem de qualquer modo, sem lenço e sem documento, sem compromisso. Os que se casam dizem um sim decidido, generoso, pensado e sincero. Tudo é inaugurado com um quero que colorirá toda a vida conjugal e familiar. Os que se casam são pessoas profundamente fiéis.


4. Há um projeto conjugal, linhas de atenção para com o cônjuge. Esse projeto exige amor, renúncia, desdobramentos e atenções mútuas. Ninguém se casa pensando na eventualidade da separação. Não se pode descartar uma pessoa como um par de chinelos. O projeto conjugal comporta revisões e reorientações de rumo dentro do pano de fundo do bem querer. Ele pode se resumir na auscultação dos desejos mais profundos de um ser que resolveu partilhar a vida com um outro.


5. Há o projeto dos filhos. Os que se casam são administradores da vida, colaboradores da obra da criação. Resolvem colocar filhos no mundo e deles se ocupar com diligência, pertinácia e um grande amor. Os filhos não são coisas, mas dom de Deus aos pais e ao mundo e mesmo antes de terem nascido já foram amados por Cristo Jesus que por elas deu a vida. Nossas crianças não podem ficar entregues a si mesmas, formadas pela televisão e pela internet. Não podem ser trapos humanos.


6. Há um projeto conjugal e familiar pautado na fé cristã. Assim, os que se casam e colocam filhos no mundo iluminam suas vidas, seus dias com a claridade que vem do mistério de Cristo Jesus. Há uma espiritualidade conjugal e familiar a ser sempre de novo desenvolvida. A família não é um hotel ou um espaço para fugir são sol e da chuva, mas Igreja doméstica. Nesse contexto vale lembrar as palavras de João Crisóstomo que, por primeiro, designa a casa como Igreja. “Voltando às vossas casas, preparai duas mesas: uma para o alimento do corpo e a outra com o alimento da Sagrada Escritura. O marido repita o que foi dito na assembléia santa, a mulher se instrua e os filhos escutem. Cada um de vós faça de sua casa uma Igreja. Não sois responsáveis pela salvação de vossos filhos? Não devereis um dia prestar contas desta missão? Como nós pastores temos que prestar conta de vossas almas, assim vós, pais de família, deverão responder diante de Deus por todas as pessoas de vossa casa”.


7. Queremos famílias que não se deixem entorpecer pelo consumismo, pelo desejo de posse, sempre de novas posses, carro novo, roupa nova, tudo descartável. Queremos uma família que tenha senso crítico, que questione o mundo à sua volta, mundo de indiferença, mundo alienado, mundo sem metas e ideal, mundo que defende o desfrutar egoísta de tudo e que não manifesta interesse algum por tudo aquilo que se passa no coração dos outros, mundo que não tem escrúpulos em aliciar crianças para o tétrico mundo do narcotráfico. Queremos uma família que permita que seus filhos sejam gente, pessoas de pé e não meros robôs de uma sociedade doente.


8. Desejamos famílias abertas ao mundo e a outras famílias. Não basta que casais se encontrem com casais para coisas banais. Há uma interdependência entre as famílias que precisa ser cultivada em encontros sérios, sólidos, cheios de discernimento e iluminados pelo Espírito que mostra caminhos novos para o mundo.


9. Queremos uma família que tenha a delicadeza de buscar a Deus, que se reúna em torno da mesa das refeições e da Palavra do Senhor, pessoas que aos poucos vão aprendendo a se vestir das virtudes da ajuda mútua, do serviço, da atenção e do carinho de uns pelos outros. Queremos famílias que ofereçam a hospitalidade do coração.


10. Pensamos numa família que tenha respeito pela vida de modo muito especial pelas crianças que ainda não nasceram, respeito pela pureza das crianças que não podem ser abusadas sexualmente, respeito pelos idosos. Protestamos de modo particular contra o aborto e a eutanásia.


11. Há muitos que sofrem no seio de nossas famílias. Há casamentos que começaram mal e mal continuaram. Há paixões secretas eternamente ocultadas. Há arranhões que ardem e feridas que se recusam a cicatrizar. Há crianças sozinhas esperando um olhar de ternura, um meigo e suave afago que não lhes pode ser negado.

 

A família é uma célula em que os esposos se escolhem e assumem compromisso um com o outro de maneira definitiva. Aceitam, de antemão, viver juntos os imprevistos do futuro. Propõem-se a dar carne a este amanhã através dos filhos que desejam ter. Este pacto fundador é um pacto de aliança. Não se trata apenas de uma contrato privado que pode ser desfeito quando as cláusulas não são respeitadas e os compromissos não são observados. Trata-se de um pacto definitivo. Sua solidez, sua indissolubilidade são a base sobre a qual se funda um relacionamento de amor que apóia na mútua confiança. O amor que vai aos poucos se solidificando, liberta-se da sedução. Os casados se amam porque se escolheram (D. André Vingt-Trois, arcebispo de Paris).

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