lucas 1, 26-38.
No meio da quaresma, uma festa interrompe o programa habitual da vida da Igreja. O Anjo visita Maria e assim começa a se manifestar em nossa carne a salvação que vem de Deus.
Queremos meditar, com o coração, as sábias palavras de São Pedro Crisólogo.
Ouvistes hoje, caríssimos irmãos, um anjo que trata com uma mulher, da reparação do homem. Ouvistes que o homem, para voltar à vida, deve refazer as mesmas etapas que o conduziram à morte. O anjo trata da nossa salvação com Maria, porque um anjo tratara com Eva de nossa ruína. Ouvistes que um anjo, com inefável arte, construiu, com argila de nossa carne, o templo da divina majestade.
Ouviste que, por um mistério insondável, Deus toma lugar na terra, e o homem nos céus. Ouviste que, de maneira inaudita, Deus e o homem se uniram em um mesmo corpo. Ouviste que a nossa frágil natureza carnal foi fortalecida pela exortação evangélica para poder conter toda a glória da divindade. Enfim, para que a areia frágil de nosso corpo não sucumbisse sob o imenso peso do templo celeste, construído em Maria, e para que não se quebrasse o ramo tenro que na Virgem deveria sustentar o fruto de todo o gênero humano, a voz do anjo começou por afugentar o medo, dizendo: Não tenhas medo, Maria.
Não tenhas medo, Maria, pois encontraste graça (Lc 1, 30). Quem encontrou graça, é certo, não conhece o temor. Encontraste graça diante de quem? Diante de Deus. Bem aventurada aquela que, entre os homens, tem a felicidade, só ela, de ouvir antes de todos: Encontraste graça. Quanta graça? Como fora dito antes: a plenitude da graça. Verdadeiramente, a plenitude, semelhante a uma chuva copiosa, inundando e embebendo toda criatura. Pois encontraste graça diante de Deus.
Dizendo isso, o próprio anjo ficou maravilhado: tanto por ter apenas uma mulher recebido a vida, como por todos os homens terem recebido a vida por intermédio da mulher. Admira-se o anjo de que a imensidão de Deus, para quem todo ser criado é restrito e limitado, venha encerrar-se nos estreitos limites do ventre virginal. Daí, vem a lentidão do Anjo, daí vem o chamado da Virgem pelo nome, afirmando a sua dignidade. A Virgem escuta e, talvez, para apaziguar sua emoção, elabora sua mensagem com lentidão e temor. Pensai, irmãos, como é justo e conveniente que, com reverência e temor, meditemos sobre o mistério, quando a Anjo, não sem receio, dissipa o temor daquela que escuta: Eis que conceberás em teu seio. (Lecionário Monástico II, p, 718-719).
Por Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM.
Fonte: Franciscanos On Line.
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